Primeira Semana de Hemodiálise

Ora comecei a fazer hemodiálise no Hospital de Coimbra, e no dia a seguir, já fiz cá em Aveiro.
As coisas têm corrido bem, são quatro horas à Segunda, Quarta e Sexta, que passo a ler ou ao computador. No final fico com a cabeça um pouco carregada, que dizem ser normal nos inicios.
Embora ainda urine, a partir do primeiro momento que se faz a Hemodiálise, o rim começa a ficar ainda mais preguiçoso. E dei conta disso, quando passado dois dias levava mais 2 kg, sabendo perfeitamente que não tinha sido de alimentação mas sim dos cerca de 4 lt de água que bebIA diáriamente.
A partir desse dia, tenho andado desesperada a controlar a água que bebo. Ora lavo os dentes para ficar com o hálito mais fresco, ora cubos de gelo na boca, ora bochechar água e deitar fora... eu sei lá... e com este calor...
Os insuficientes renais que já não urinam podem beber 500ml de água, eu posso beber a quantidade que urino mais 500ml. Ora... eu já não urino 4lt, mas cerca de 1lt por dia. E a água contida nos alimentos também conta.
Ora posso dizer que o mais me tem custado, é realmente a sede que passo.

Acontece porém ... que na ultima sessão de hemodiálise as coisas correram mal. Pois..
A agulha saiu do sitio, e a enfermeira tentou meta-la novamente. Parecia tudo a funcionar, mas o sangue começou a coagular e acabei por "rebentar" uma veia. (Infelizmente não sei os nomes técnicos destas coisas.)
Quando disse que me estava a fazer uma pressão no braço, pois é suposto não sentir qualquer dor, já eu estava cheia de sangue por todo o lado.
Foi um correrio naquela sala. 5 enfermeiras e o médico.
Posso dizer que nunca entrei em pânico. Apenas estava preocupada se isso faria com que parasse a minha fistula, pois aí estava o caldo entornado.
Tentaram desentupir a veia, tentaram reiniciar a diálise, mas nada. A fístula estava dura.
Devolveram 1 seringa do meu sangue e tentaram dar-me também pela fístula ferro. No entanto, o ferro nao estava a correr e formou uma bola no meu braço.
Ou seja... hoje tenho o meu antebraço que no local da fístula parece que tenho cá dentro a bola de ténis que a minha cadela Dalila tanto gosta de brincar.
Isto aconteceu ontem, e toda a tarde me senti mesmo fraquinha, até dormi de tarde que é coisa que nunca consigo.
Hoje, já acordei bem. Levantei-me às 6h e fui passear pela areia e acabei com um banho de 30minutos no mar.
Estou muito melhor. O segredo é mesmo não desanimar!!!

O meu primeiro dia de Hemodiálise

6.30 tocou o despertador.
Chegou o dia!
Chegou o momento que tanto receava...

Liga a minha mãe e lá vamos com o Daniel e Ana Jorge para o desconhecido ...

Uma viagem silenciosa ... algumas vezes interrompida com perguntas da minha mãe, que responder, custava mais que respirar de baixo de água.

No hospital, no 8º piso, encontro o Dr. Henrique, com quem já tinha falado sobre transplante. Recebeu-me com um rasgado sorriso e muito delicado. Disse aquelas palavras que queremos ouvir ...

Aguardamos mais um pouco, e tive oportunidade de conversar com uma senhora que tinha iniciado diálise há cerca de 1 mês e meio. Bocejou-me palavras de esperança e tentou acalmar-me a alma.

Entrei naquela sala fria, muito clara, a tremer. A tremer literalmente. E todas as enfermeiras, médicas, auxiliares foram de uma simpatia que não imaginava ser possível. Afinal aquilo é a rotina delas. Não tinham que ter tanta paciência para comigo, que estava a tremer a tremer... a tremer..

Sentar na cadeira de hemodiálise, ver aquelas máquinas todas, foi outro problema. Espetar as agulhas... nem custou muito.

Durante o primeiro 5 minutos esperei sentir alguma coisa má... mas nada aconteceu. Nada, mesmo nada. Apenas frio. Muito frio.

Durante o tempo da sessão pude jogar e estar ao telemóvel com o meu pai e com o Daniel. E as duas horas passaram. E bem.

A caminho de casa senti cansaço, sono. Mas não dormi.

Em casa, logo logo me bateram à porta, porque tinha encontrado um gatinho que gostariam que eu ajudasse arranjar dono. ;)


Insuficiência Renal Crónica - O meu último dia sem hemodiálise

Não sei bem por onde começar, pois sobre este tema tenho tanto para dizer ...

Fui diagnosticada como Insuficiente Renal Crónica em Janeiro de 2008, numa consulta de nutrição no Hospital de Aveiro. As análises foram repetidas, pois ficaram incrédulos com tal facto, eu que na altura tinha apenas 31 anos.
Na verdade, todos os anos fazia análises clínicas e já há alguns que o resultado da proteinúria na urina era desvalorizado pelo médico de família. Todos os anos me dizia "Tem que comer menos carne" .

Fui enviada para os hospitais da universidade de Coimbra, e aí tenho vindo a ser acompanha. Bem acompanhada, sinto eu.

Para me preparar para hemodiálise foi efectuada uma fístula artereo venosa no braço esquerdo, que deixou de funcionar passado um tempo, e posteriormente em 2011 fiz outra no braço direito, que mais tarde tive que a superficializar.

Na semana passada, no final de junho 13, os resultados das análises diagnosticaram um valor de creatinina muito elevado 6. O nefrologista que há mais de um ano que me vinha a dizer que estava a chegar a hora, disse que a hora não era mais para o mês que vem. Era agora!
Com uma história bem contada e com a vinda do calor, ele lá aceitou que eu repetisse as analises dali a 6 dias.
Ontem ...
E o valor de creatinina já não era de 6, mas sim de 7.

Cheguei ao fim da linha.
Os meus 2 rins juntos, têm hoje uma taxa de filtração inferior a 6%, quando em estado normal deveria ter 200.
A minha filha chorou abraçada a mim, ela que é tão contida nos seus sentimentos, no seus quase 14 anos. O meu namorado deu-me força, palavras de esperança, promessas que nunca poderá cumprir de dias melhores e mais coloridos.

Por mais que tenha estado 5 anos à espera, por mais que tenha estado os 6 dias a mentalizar-me para o início tão anunciado, na verdade não estou. E é já amanhã.

Estão muitos receios aqui dentro, muitas dúvidas, medo ... muito medo.
Mas por incrivel que pareça, sinto-me em paz e fui trabalhar, fui também levar a gata ao veterinário para ser operada, passear de cabriolet com a minha filha e a Inês com a música muito alto. Saber finalmente as notas. Deixo também a casa impecável (com a grande ajuda da D. Delcina).
Desde ontem que preparo tudo para amanhã.
O "primeiro dia do resto da minha vida"

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